sábado, 3 de outubro de 2015

João Monti

CONTATO: geografia.sociedadenatureza@gmail.com

(caso queira publicar textos, poemas, vídeos, sugestões, críticas ou qualquer tipo de manifestação artística, escreva-nos)

João Monti é ator, compositor, músico, ensaísta, escritor, poeta e professor de geografia. Também conhecido por anti-doutor Punk, Monti é descendente de uma família de notórios libertários e escreve nesse e em outros blogs. Sobre a geografia, Monti esclarece: "É anacronismo remontar a geografia à Antiguidade de Heródoto, Estrabão ou Ptolomeu. Também é falacioso a ideia de que a geografia é uma ciência. Na verdade, não é nada disso. A geografia moderna nasce em função dos Estados nacionais e não é senão um repositório de teorias científicas das quais muitas eram racistas e defendiam a supremacia europeia. No último quartel do século XIX até meados do século XX, a geografia se empenhou arduamente em produzir ideologia a serviço das nações capitalistas e imperialistas. Nos anos de 1970, na França, diante da frivolidade da geografia universitária, Yves Lacoste propunha um retorno à geografia tradicional, recomendava a leitura de Élisée Reclus e encontrava na guerra uma razão de ser para a geografia. Na mesma época, do outro lado do Atlântico, nos EUA, David Harvey introduzia na metodologia geográfica um instrumental francamente marxista de análise. Nesse contexto, surge a geografia crítica, que ensaiou uma ruptura com o passado subserviente da geografia até então. Com o fim da Guerra Fria, porém, a geografia crítica entra em refluxo e uma nova onda conservadora, assumindo muitas vezes a forma de "crítica radical" ou mesmo de geografia "anarquista" (institucional e burocrática!!!), torna-se avassaladora. Hoje, a geografia retoma sua vocação reacionária, sob suas multiplas faces, apesar de ser, no entanto, completamente obsoleta e desnecessária às demandas do poder. Um verdadeiro anarquista é inimigo da geografia" (Monti).  



Monti no show do Ramones: Hey! Ho! Let's go!


Genealogia:
Os primeiros do topo da árvore genealógica são o casal Nivardo Fumelli Monti e Mariana Petri e o casal Oreste Meliani e Assunta Garemi. (Agradeço ao meu primo Thomas Parenti por ter me enviado a árvore - obs.: não consegui ampliar a foto).



Obs.: Aos familiares que têm me procurado, peço a gentiliza de me enviar, caso houver, fotos de Nivardo e Mariana ou qualquer informação sobre ambos.  


Nivardo Fumelli Monti

Em sua tese de doutorado "Pensiero e Dinamite Anarquismo e Repressão em São Paulo nos anos 1890", junto ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Claudia Feierabend Baeta aborda a presença, atividades e repressão dos militantes anarquistas residentes ou atuantes em São Paulo nos anos 1890, contextualizando, inclusive, o cenário da chegada dos atividades italianos no final do século XIX.

“Já nos primeiros anos da década de 1890, havia comentários de que era uma estratégia geral dos países europeus, 'onde só se [falava] de greves ou de manifestações de operários e desempregados, com as ameaças de dinamite e o espantalho do 1º de Maio’ conceder passaportes àqueles cuja presença não era desejada e que mostravam interesse em deixar o país".

"Havia, no entanto, suspeitas de que, mais do que facilitar o embarque dos anarquistas, o governo italiano incentivava sua partida: já em 1893, chegaram às autoridades brasileiras denúncias de que aquele governo fazia embarcar, ‘com destino ao Brasil, agregados às famílias no caráter de primos, a indivíduos a quem quer expulsar da Itália por serem anarquistas e socialistas conhecidos.’ ".

"O cônsul italiano, conde Edoardo Compans de Brichanteau, em correspondência com o Ministero degli Affari Esteri em 1894, chegou mesmo a sugerir que os indivíduos que compunham ‘o primeiro núcleo de anarquistas (...) no Brasil’ eram italianos e, aparentemente, haviam sido enviados 'pelo próprio Governo Régio após os dolorosos fatos do 1º de Maio em Roma'"

"As autoridades brasileiras procuravam tomar tais sugestões com cuidado, relativizando a responsabilidade do governo italiano na migração de tais indivíduos, mas as denúncias persistiam. Entre os indivíduos suspeitos de anarquistas, eram os italianos especialmente temidos no Brasil, tanto por suas idéias anarquistas e práticas subversivas, personificadas nas figuras dos magnicidas – todos italianos – que atentaram contra os chefes de Estado e realeza na Europa, como pela grande afluência de imigrantes dessa nacionalidade que por aqui aportavam".

"Não é por acaso que a Itália vai aparecer como procedência mais recorrente de anarquistas que se instalaram em São Paulo nos primeiros anos da década de 1890, nem que aos comissários responsáveis pela migração para o Brasil fosse cobrada grande vigilância em relação àqueles que deixavam os portos italianos. Daí as preocupações quando chegavam às autoridades brasileiras”. Daí as preocupações quando chegavam às autoridades brasileiras notícias como a seguinte:

"'Partida – Por volta das 17 horas de ontem o vapor Matteo Bruso, da [companhia de navegação] Velloce partiu para o Rio de Janeiro e Santos com 1150 emigrantes dos quais (....) 737 para Santos diretamente para São Paulo. Entre estes últimos, havia o anarquista Fumelli Monti Nivardo, de Lucca, que, com sua mulher e filhos, conduz-se ao Brasil onde será introduzido no estado de São Paulo. Ele segue espontaneamente, talvez para escapar de possíveis perseguições, e o próprio governo facilitou-lhe o embarque. Isso não impediu que durante a sua breve parada de dois ou três dias em Gênova ele fosse continuamente escoltado por dois vigias, que não o deixaram por um só momento, nem de dia, nem à noite, acompanhando-o em todos os lugares, mesmo a bordo, (...) nunca o perdendo de vista, até que o Matteo Bruso levantasse âncora' .”

"O recorte da notícia publicada pelo periódico de Gênova acompanhou o ofício do Cônsul Geral do Brasil na Itália ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores. A intenção do cônsul era alertar as autoridades brasileiras para que pudessem tomar as medidas cabíveis na chegada do 'anarquista italiano'".

Já na tese “Anarquismo, Sindicatos e Revolução no Brasil (1906- 1936)”, de Thiago B. de Oliveira:


“Assim, foram efetuadas prisões e expulsões de estrangeiros considerados ou suspeitos de serem adeptos do anarquismo desde pelo menos o início dos anos 1890, como atesta uma correspondência de 1894 do embaixador italiano em Madri ao ministro de Estado espanhol sobre os preparativos da expulsão de Portugal e do trajeto que deveria seguir até a Itália o preso Nivardo Monti Fumelli, “anarquista perigosíssimo considerado por nosso governo [da Itália] capaz de organizar e de executar qualquer atentado”. Segundo as informações apresentadas, Nivardo “gostaria de retornar ao Brasil, onde deixou mulher e filhos, e de onde foi expulso por aquele Governo, mas lhe faltam os meios para fazer a viagem” (Nota: Correspondência “Reservadíssima e urgente” do Embaixador italiano em Madri ao Ministro de Estado de Espanha, em 24 de dezembro de 1894. Legajo 2757 AGMAEC – Madri. [parte 2 fotos 007 e 014] [Estão na mesma pasta as cartas em italiano e sua tradução em espanhol]), o que permite aferir, embora não seja possível precisar se este seja o caso, que é muito provável, devido à recorrência da não observância dos procedimentos jurídicos e constitucionais nas expulsões que se efetivaram durante a Primeira República, que o italiano tenha sido expulso sem julgamento e sem que se verificasse se era casado e/ou pai de filhos nascidos no Brasil” (OLIVEIRA, B., T., “Anarquismo, Sindicatos e Revolução no Brasil [1906- 1936]”, 2009, pp. 53 e 54).

Continuamos a pesquisa em cartório e requerermos esta certidão (6/4/17):



Os filhos de Nirvado são Rino e Imera. Seus pais são Giuseppe Fumelli Monti e Anna Mazzini.

Não tinha conhecimento do sobrenome Mazzini em minha família. Fico pensando se com isso tenho algum parentesco com Giuseppe Mazzini, já que, segundo a informações de familiares, Nivardo foi tenente garibaldino.

Nivardo foi homenageado junto ao Mausoléu dos Garibaldinos, no Araçá.




Viva Nivardo Fumelli Monti, herói da humanidade!


Ateo Tommaso Garemi

Filho de trabalhadores italianos que imigraram para a França, Ateo Tommaso Garemi nasceu em Genova, em 6 de março de 1921. Quando ainda era adolescente, de apenas dezessete anos, e trabalhava como lenhador, alistou-se nas Brigadas Internacionais em Espanha. Em 1940, Garemi ingressa no Partido Comunista Francês e, após a ocupação alemã, entra nas fileiras dos "Maquis".

Depois de se destacar como um dos combatentes mais ousados na região de Marselha, Ateo Garemi retorna para a Itália em 8 de setembro de 1943, tornando-se organizador e primeiro comandante do GAP de Turim. Entre suas primeiras ações, distribui panfletos contra os nazistas em um cinema de Turim. Em 25 de outubro de 1943, juntamente com o anarquista Dario Cagno, abate a tiros Domenico Giardina (chefe da CSR), provavelmente confundindo-o com o infame Piero Brandimart.

Dois dias após o atentado, Garemi e Cagno são presos pela polícia fascista. Resistem a tortura mas são julgados e condenados à morte pelo Tribunal Especial de Turim. No julgamento, Garemi declarou: “Eu voltei da França para lutar contra os invasores e os fascistas. Dentre todos os traidores, sei que Giardina era um opressor cruel e por isso foi vingado. Eu me considero um soldado do povo e estou orgulhoso de ter sido capaz de cumprir o meu dever. Sei que serei fuzilado, mas não tenho medo: atrás de mim virá a classe trabalhadora e o povo italiano. Quando cair a arma de minha mão, outro a apanhará”.

Garemi e Cagno foram fuzilados em 21 de dezembro de 1943, no pátio do quartel “Monte Grappa”. Imediatamente após a morte de Garemi, para honrar sua memória, o seu nome foi dado à 45ª Brigada Garibaldi, tornando-se, posteriormente, “Gruppo Divisioni ‘Garemi’”.

Viva Ateo Tommaso Garemi, herói da humanidade!


Rue Ateo Garemi, 13200 Arles, France

Abaixo: Mapa de Calcinaia, Itália. Note a rua "Via Garemi" (travessa da "via Buozzi").








Meliani

Orfeo Meliani
IL CALCINAIOLO ORFEO MELIANI DEPORTATO NEL LAGER DI HERSBRUCK
 - Il campo di concentramento di Hersbruck nel nord est della Baviera dove fu deportato Orfeo Meliani (17 feb. 1905-26 dic. 1944). Il lager di Hersbruck era un sottocampo del lager di Flossenburg. Attivo dal luglio 1944 al marzo 1945 raggiunse una poplazione di 10.000 prigionieri di diverse nazionalità (italiani, austriaci, francesi, ungheresi, ecc.). E' stato demolito all'inizio degli anni '50.

Na verdade, Orfeo nasceu no Brasil e cedo migrou para a Itália. Ainda não sei por que Orfeo foi preso em um campo de concentração, mas é muito provável que ele tenha participado da resistência contra o nazifascismo.


Unica Garemi

Em (R)esistenze di oggi: Autointervista" di Sandra Landi (Scrittrice e antroploga); "La Resistenza delle Donno nelle Guerre di oggi" di Teresa Strada (President Emergency); "Resistere in Angola" di Suor Manuela (Missionaria da 20 anni in Angola); "(R)esistere. La memoria attiva del femminismo" di Paola di Cori (Storica - Università di Perugia); "Memoria e Resistenza" di Ugo di Tullio (Presidente della Mediateca della Regione Toscana), os autores contam a participação das Mulheres na Resistência nos dias atuais bem como mas na guerra contra o nazifascismo. Dentre estas mulheres, Giuseppina (chamada Unica) Geremi Guelfi.

Depoimento de Unica:

Guelfi, Unica Garemi. "Le Donne della Resistenza." In Resistenza ai Giorni Nostri, 112-115. Pisa: A.N.P.I., 2005.

"Da Donne e Resistenza", Atti del convegno, Pisa, Abbazia di S. Zeno, 19 giugno 1978 pp. 34-41 Intervento di Unica Garemi Guelfi sul ruolo delle donne nella resistenza nel pisano. 

“A população civil parecia apoiar os esforços da Resistência de diferentes maneiras. Em todo o país tornou-se corriqueiro o apoio das mulheres, que doavam roupas e alimentos para os combatentes. As mulheres formavam uma rede espontânea de solidariedade. Num esforço único, elas doavam comida e prestavam ajuda aos familiares e enfermos. Além disso, possuíam uma liberdade de movimento que não era concedida aos homens. Unica Garemi Guelfi dá um relato detalhado da rede de solidariedade das mulheres em Pisa. Tal liberdade permitiu-lhes ações como levar informações e transportar alimentos e armas para os refugiados e Partisans. Muitos italianos atribuem as ações espontâneas de proteção das mulheres aos refugiados e Partisans a um instinto materno, pois elas agiam com bondade, nutrindo a esperança de mulheres de outros locais, ao cuidar dos maridos destas, filhos ou irmãos. Giorgio Vecchiani, um Partisan e atual diretor do A.N.P.I. (“Associazione Nazionale Partigiani d’Itália”) de Pisa, discorda da teoria do instinto maternal, como a razão para a participação das mulheres na Resistência, porque, segundo ele, também havia mulheres que colaboravam com os nazistas e fascistas”.

LAMARRE, Lynda, “Heroes or Terrorists? War, Resistance, and Memorialization in Tuscany, 1943-1945”, Georgia Southern University, Spring 2011.

Nota: “Garemi” é um nome pouco comum e, ao que tudo indica, parece estar circunscrito à região da Toscana, Itália, com alguma influência francesa. Talvez, atualmente, quase ninguém mais possua esse sobrenome. Numa demorada procura no Google, encontrei apenas Valentino Garemi, dono de uma loja de sapatos, no Canadá, e Elisa Garemi, de 30 anos, na França (Facebook: Elisa Garemi Dupre). Também fiz uma pesquisa etimológica e sua origem e significado são incertos. Dentre as acepções que mais parecem fazer sentido talvez a mais plausível tenha alguma relação a uma variação de Garen, que significa “guarda”, “guardião”, sobrenome antigo da região do Languedoc, França (outras variações Garrin [inglês, germânico] "mighty with a spear" [poderoso com a lança]; outras variações possíveis encontradas: Garan, Garen, Garin, Garon, Garran, Garren, Garron, Garryn, Garyn. Variação do germânico Geeren, “geer”, lança; etc.).
Algumas variações: Gareni, Garenni, Caremi, Garemer, Gareman.


Fumelli Monti

Mais algumas notas sobre Nivardo.

Além de anarquista, Nivardo também seria, segundo relatos de familiares, tenente garibaldino. Realmente, no mausoléu em homenagem aos garibaldinos, no Araçá, consta uma placa com o nome Nivardo Fumelli Monti, entre outros combatentes. Essa aparente contradição pode ser explicada pelo fato de muitos anarquistas terem se juntado aos garibaldinos na luta contra as monarquias que subjugavam a Itália ainda no século XIX. Outra hipótese é que Nivardo, nascido em Luca nos anos de 1845, poderia ter servido, em sua juventude, às tropas de Garibaldi, durante a Terceira Guerra de Independência da Itália, anos antes de se tornar anarquista.




República Romana

No contexto revolucionário da “Primavera dos Povos”, em 1848, uma rebelião na Itália, visando à independência e unificação do país, levou a proclamação da Segunda República Romana. Fundada em 9 de fevereiro de 1849, sobre pressupostos democráticos e laicos, os revolucionários, contando com a participação de Giuseppe Garibaldi e liderados pelo triunvirato Carlo Armellini, Giuseppe Mazzini e Aurelio Saffi, obrigaram o conservador Pio IX a abandonar o Vaticano. Refugiado, o Papa convocou todas as nações católicas a debelar os insurgentes da República Romana. França, Áustria e Napoles atenderam ao chamado. Na primeira expedição francesa, de 27 de abril, as tropas francesas foram rechaçadas. Karl Marx descreveu o episódio assim: “O ataque do exército francês a Roma, a retirada a que os romanos o haviam obrigado, a sua infâmia política e a sua vergonha militar, o vil assassínio da república romana pela república francesa, a primeira campanha de Itália do segundo Bonaparte, tudo isto estava na ordem do dia”. A República Romana não resistiu ao segundo cerco francês e caiu em 3 de julho de 1849. Apesar de restituir o poder da Santa Sé, Napoleão III fez várias concessões aos revolucionários, como a formação de um governo secular e liberal.


O "Protocollo della Republica Romana" é a compilação da deliberação das assembleias comunais convocando a República Roma a resistir à invasão francesa.

Da comuna de Nidastore, além de outros membros da família Fumelli Monti, Giuseppe, pai de Nivardo, subscreve o manifesto.



REPÚBLICA ROMANA

EM NOME DE DEUS E DO POVO

Nidastore, em 3 de abril 1849

A Sociedade Popular de Nidastore, movida por um ânimo vigoroso, diante da invasão das tropas francesas em território da República Romana, declara que não só com esta violação a França atenta contra o direito dos concidadãos romanos e a tranquilidade do nosso Estado, mas, além disso, fomenta a discórdia de um povo que apenas deseja a todo custo viver ou morrer republicano. Em nome de Deus e do povo, protesta contra a inesperada invasão, e declara resistir com todas as forças e sacrifício da própria vida no apoio incondicional do Governo da República.

Delibera por unanimidade nesta seção extraordinário no turno supracitado, em 5 de abril 1849.

O Presidente

Marco Fumelli-Monti

Francesco Monti, conselheiro

Andrea Crocchi, conselheira

Giuseppe Fumelli Monti, conselheiro

Giambattista Tarducci, conselheiro

Giovanni Monti, tesoreiro
Ilario Lenti, seg.


Maggiore della Cavalleria Antenore Fumelli Monti

Monumento a todos os combatentes tombados em Arcevia

A comuna de Arcevia relembra todos os conterrâneos que perderam suas vidas na luta em defesa da pátria durante a Primeira Guerra Mundial, através de um obelisco de mármore inscrito, nos quatro lados da parede, os nomes dos heroicos combatentes. Mais tarde, uma placa de mármore foi acrescentada em memória das vítimas dos campos de extermínio alemães.

“Este monumento homenageia os filhos tombados na Primeira Grande Guerra, antes e além do Piave, conscientes do valor de todo um povo pela unificação italiana, vaticinada por Dante e desejada pela fé do apóstolo Giuseppe Mazzini”.




OBs.: Rino Fumelli Monti, filho de Nivardo, homenageou Antenore através de um de seus filhos, chamado Antenor, conhecido na família por tio Bibi.




PAPILLON

Quando criança, eu ouvia muito nas conversas dos adultos que o Papillon era um parente próximo. Nessas conversas, era comum o relato em que os mais velhos se emocionavam quando liam o livro ou assistiam o filme da narrativa do Papillon. Segundo a “lenda de família”, o “nosso Papillon” fora preso por matar um guarda francês que lhe teria cuspido, em seu rosto, e dito, pejorativamente, “italiani”. Este teria tomado a arma do próprio guarda e lavado a honra com sangue. Um dia perguntei a minha avó sobre quem era o Papillon. “É da parte dos Garemi”, disse minha saudosa avó, dona Annina. Muito tempo depois, li o livro “Papillon” e não encontrei indícios suficientes para comprovar tal parentesco. Pode ser que os antigos associaram a prisão de Ateo à história de Papillon. No ano de 1932, Henri Charrière, o Papillon, acusado sem provas por homicídio, foi condenado à prisão perpétua ainda muito jovem, aos 25 anos de idade, assim como Ateo, fuzilado aos 22. Porém, Papillon conseguiu escapar. Isso talvez serviria de consolo, para amenizar a dor dos parentes de Ateo, radicados no Brasil. A esperança seria uma borboleta alçando voo de flor em flor; esperança de retorno, de liberdade. Outra hipótese é que o nosso familiar não era o Papillon, mas um amigo, muito inteligente e culto, que o ajudou na fuga. Tudo isso, contudo, são especulações, sendo preciso se aprofundar mais nesta questão de família ainda obscura. (Por favor, se alguém tiver alguma informação, peço que me escreva).

Nota: Recentemente descobri que Heni Charrière não era o verdadeiro Papillon nem tampouco autor do livro homônimo. O verdadeiro Papillon e autor do livro é René Belbenoit, que, juntamente com Charrière, Mauricio Hebert, Joseph Guilhermi Marcel e Marcel Guy, realmente fugiram da Ilha do Diabo. O grupo veio para o Brasil e depois se separado, mas Belbenoit, Hebert e Marcel permaneceram em Roraima. Charrière apenas extraviou os manuscritos de Belbenoit, adulterando a autoria, quando aquele lhe confiara o envio para a editora. (Mais informações, consultar pesquisas do jornalista Platão Arantes.

MELIANI

A família Meliani, como já foi dito, é de Calcinaia, Toscana. Acima, estão Oreste Meliani e Assunta Garemi. Ambos estiveram no Brasil mas retornaram para a Itália. Tiveram 7 (?) filhos: Ricardo, Mariano, Oristilo, Orfeo, Pilade, Maria e Ida (minha bisavó). O pai de Oreste chamava-se Riccardo. 

O documento abaixo é de 9 de abril de 1913. Trata-se de uma declaração de Natale Meliani, filho de Riccardo, natural de Calcinaia, carpinteiro, residente em São Paulo, no bairro da Barra Funda (o mesmo em que minha avó morava), requisitando ao Consulado Italiano em São Paulo a vinda de um irmão, Pietro Meliani, para o Brasil.

(Acredito que Natale e Pietro são irmão de Oreste).




Uma das filhas do casal Oreste Meliani e Assunta Garemi, Maria casou-se com Elpidio Parenti, quando estavam no Brasil, emigrando em seguida para os EUA. Elpidio, juntamente com seu irmão Luigi, tiveram uma atuação importante no movimento anarquista norte-americano. Meu primo, que mora na Califórnia, me escreveu este email:


Joao,
That was a lot of photos!
I will need some time to organize the information you sent.
I will update my records and send a copy to you to make sure I got it all correct.

Anarchists?

Ok, here is a story.
Remember how I said that I had some Calcinaia relatives?

My great grandfather, Elpedio Parenti and his brother Luigi Parenti were both active anarchists in San Francisco, and were arrested many times.
Luigi was the secretary for the Industrial Workers of the World in San Francisco.
The IWW was against US involvement in WWI and protested the governments announcement to join WWI.  In San Francisco there was a big parade, the "Preparedness Day Parade"  Luigi was a suspect in that bombing, but was not arrested.
Later, in 1917 the US government arrested many of officers of the IWW all over the country including Luigi.  There was a large trial in Chicago, and Luigi , and about 90 others), were sentenced to Leavenworth Prison.
Luigi was released early on the condition that he, his wife and children get out of the country and never come back.  He took the deal and went back to Calcinaia.

I was able to get a copy of his prison record.  I also got a copy of his FBI file, and the file that the Italian government kept on him (but it is in Italian!)
I attached his mugshot.
I also attached a photo postcard he sent to his father and sister in Calcinaia.  This was used against him in his trial.  The inscription mentions fighting the government with weapons, etc.
Luigi is the third on the left, the only one with no hat.
I do not know for sure, but the one with the mustache looks like his brother (my great grandfather) Elpedio, but I am not sure.  My Aunt thinks not.

My grandmother Emma was indeed named after Emma Goldman!.

Maria and Elpedio's first child, the one born in Brazil, was Carinda.  Elpedio and Luigi had a friend, and fellow anarchist, Mario Piccinini.  Once, Luigi and Mario were in jail together.  The jailers would harass male visitors, so Elpedio sent his daughter Carinda to jail to get information to Luigi.  While there, she met Mario, they eventually got married, and they had Russia. 

I hope you liked these stories!

I must get to bed.

Thomas


Luigi é o terceiro da esquerda para a direita.


Viva fratelli Parenti, heróis da humanidade!

Viva os libertários!



VIVA A ANARQUIA!

18 comentários:

  1. Oi João, sou da Familia Fumelli Monti, sou tataraneta do Nivardo Fumelli Monti, bisneta do Rino Fumelli Monti casa com a Ida Meliani, que tiveram a Assunta, Nivardo, Radio, Rino ( filhos ) , sou neta do Radio Fumelli Monti. Você sabe quem tem essa arvore genealógica ?
    Obrigada primo, meu nome é Elny Fumelli Monti

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    1. Olá prima Elny, desculpa a demora em responder. É que não vi seu comentário, só vi hoje. Os filhos de Ida e Rino são Nivardo, Radio, Antenor (Bibi), Assunta, Olga e Annina. Sou neto de Annina e filho de Nilza. Você é filha da Inês (Ida), do Mister, da Nair ou do Romualdo? (é o que lembra a minha mãe). Quem me enviou a árvore foi Thomas (da parte dos Meliani), que mora na Califórnia. Escreva-me, que eu envio a árvore e o contato dele. Abraços!

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    2. Oi João, sou neta de Radio e filha de Romualdo. Gostaria muito que vc me enviasse a árvore email trescerejas@hotmail.com Abraços

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    3. Oi, Elny. Sou o Alberto, filho da Dra. Dalva, Neto do Nivardo Luiz Fumelli Monti e da Ignez Zellina Monti. o Radio era meu tio avô.

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  2. Oi João, sou da Familia Fumelli Monti, sou tataraneta do Nivardo Fumelli Monti, bisneta do Rino Fumelli Monti casa com a Ida Meliani, que tiveram a Assunta, Nivardo, Radio, Rino ( filhos ) , sou neta do Radio Fumelli Monti. Você sabe quem tem essa arvore genealógica ?
    Obrigada primo, meu nome é Elny Fumelli Monti

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  3. Olá, somos primos distantes ... filho de Ricardo Meliani, estou na sua árvore.
    Estava fazendo uma, mas a sua está bem mais completa.
    Se puder me disponibilizar, eu agradeceria.
    Aliás, posso lhe ajudar e contribuir com outras informações para completar, ok?
    Meu email é mauro@meliani.com.br ... vou te procurar no face e te add.
    abraços primo

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  4. Olá primo! Você deve ser da parte de Santos, não é? Pelo que eu sei, o Rino casou duas vezes. A primeira esposa, minha bisavó, se chamava Ida Meliani, a segunda esposa deve ser sua bisavó. Com Ida ele teve seis filhos: Nivardo, Assunta, Olga, Radio, Antenor (Bibi) e Annina (a caçula e minha avó). A família acabou indo cada um para um lado, mas acho que o Miste (Orlando), filho do Radio e tio da Elny (comentário acima), conheceu o seu avô, porque também morou em Santos. Certa vez, estive em Juquehy e meu pai conversou com um morador que também conheceu o Mario, e contou sobre ele. Veja: postei uma foto do Mausoléu dos Garibaldinos em que Nivardo foi homenageado. Abraços!

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  5. Oi! Somos parentes... Meu Avô Materno era Nivardo Luiz Fumelli Monti... Neto de Nivardo Fumelli Monti..
    Sou Alberto Federman Neto, filho da Dra. Dalva Deusa Monti.

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  6. Olá João, que coisa maravilhosa ler esse artigo. Sou sua prima, da família. Sou filha do Danúbio Monte pires. Estou procurando documentos dos meus bisavô. Como posso entrar em contato. Obrigado. Abraço. Simone

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    1. Olá, prima! Antes de mais nada, obrigado. Que tipo de documento você procura? Tudo que eu postei nesta página foi resultado de pesquisa na internet mesmo e também contei com a contribuição do Thomas. O Thomas me enviou também um livro escrito pela Russia mas que não posso divulgar pois está protegido por direitos autorais. E os yankees levam a sério isso! Todavia, neste livro há pouca coisa sobre a família no Brasil, conta mais sobre como a Maria conheceu o Elpidio e depois migraram para os EUA. Quando eu tiver uma folga, pretendo ir no Arquivo do Estado e pesquisar jornais de bairro do início do século XX. Tudo que eu encontrar colocarei aqui nesta página. Agora, se você procura certidões, aí é como procurar uma agulha num palheiro. Talvez, você terá de ligar de cartório em cartório, atrás de informações. Espero ter te ajudado. Abraços!

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  7. Olá, meu nome é Maria Tereza Fumelli Monti Pedrozo. Sou neta de Rino Fumelli Monti, filha de Bruno Fumelli Monti, que infelizmente faleceu em 2015. Pedrozo é da parte de meu marido. Meu pai tinha quatro irmãos: Maria, já falecida, Hélio, já falecido, Imera (acredito que esteja bem, perdemos contato após a morte de meu pai) e Mário, já falecido. Todos filhos do Rino com Maria Filomena, que era uma jovem viúva, com dois filhos pequenos, o Jaci, que eu conheci, e uma filha (pelo que meu pai falava chamava-se Heloisa e morreu muito jovem, ele tinha poucas memórias dela). Soubemos da história antiga da família Fumelli Monti por relatos da tia Maria, que foi procurada pelo Orlando (acho que era esse o nome) que morava na Praia Grande, na época. Isso foi no fim dos anos 80. Ele a encontrou na lista telefônica e os dois se conheceram pessoalmente. Um dos filhos dela, o Carlinhos, meu primo, tinha uma foto do Nivardo com dedicatória para o vô Rino. A foto que vi ficou na casa de meus pais por uns dias e o Nivardo tinha uma das pernas amputadas na altura do joelho, pelo que consta fruto de um acidente com explosivos ou sequela de guerra. Nunca vi o rosto do vô Rino e nem da vó Filó (como era chamada carinhosamente). Minha mãe Neuza foi ao velório do Vô Rino lá pelos idos de 1954. Ela chegou a conhecê-lo, pois a tia Maria, filha mais velha dele, já era casada com Orlando Pellicciotti nessa época e morava na casa em frente à dela,na R. Prof. Torres Homem, aqui em Santos. Minha mãe já conhecia o meu pai Bruno de vista, mas no velório do Rino os dois acabaram se apaixonando e começaram a namorar logo depois, casando em 1957 e tendo 5 filhos. Não sei o que foi feito com a foto, ela foi devolvida para a tia Imera ou para o Carlinhos. Legal encontrar pessoas com as mesmas raízes que nós, fiquei feliz. Um abraço!

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    1. Oi Tereza, sou Cassio Monti , filho mais velho do Orlando Fumelli Monti e primo da Elny. Meu pai conheceu o tio Mario e a tia Maria, retomando o elo da familia em Santos, meu pai também faleceu em 2015, creio que 1 ou 2 anos depois do Mario. Minha mãe que mora em Santos ainda tem contato com a esposa do Mario. Gostaria de ver alguma foto do Rino, pois temos poucas informações sobre ele. Esta nossa família tem história... abraços

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    2. Olá prima, desculpa a demora em responder. É que nem sempre olho os comentários do blog. Aliás, quando fiz o blog, para reunir todo o material sobre os Fumelli Monti e Meliani que encontrava na internet, não imaginava que ele se tornaria um "ponto de encontro" da família. Mas estou muito satisfeito com o fato do blog possibilitar este "encontro" que é, ao mesmo tempo, troca de informação. Há algum tempo, tenho um projeto, que eu não sei quando terei tempo para fazê-lo, de me embrenhar no Arquivo do Estado e vasculhar jornais de época, os quais, inclusive, eram escritos em italiano, como o Fanfulla, La Battaglia, A Plebe etc., atrás de uma foto do Nivardo, já que muitas vezes estes jornais estampavam fotos de deportados na primeira página. Agora você me diz que viu uma foto do Nivardo e que ele tinha uma perna amputada! Minha mãe, Nilza, me disse que a mãe dela, Annina, contou que eles tinham uma gráfica, onde produziam panfletos políticos, e que a polícia explodiu. Será que foi nesta ocasião que ele perdeu a pena? Mas é tudo muito vago. Ela também pouco sabe deste fato. Mas, eu realmente gostaria muito de obter uma foto do Nivardo e do próprio Rino. O que eu sei é que o Rino se separou da Ida, minha tataravó, e voltou para Itália. Depois retornou para o Brasil e foi morar em Santos, onde se casou de novo com a Filó. Desde então, não tivemos mais contato com a família de Santos, com exceção do Mister que foi morar na baixada. Mas fiquei muito feliz e emocionado com seu relato. Seria interessante se conseguíssemos recuperar estas fotos e outros documentos e publicá-los na internet, até mesmo em um outro site, mais imparcial que o meu, para se tornar uma referência para os membros da família que estão espalhados pelo mundo. Muito obrigado e um grande abraço!

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  8. Também nunca vi uma foto do vô Rino e nem da vó Filó, a imagem que tenho deles é pelas descrições feitas por minha mãe. Uma pena...

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    1. Uma pena mesmo. Caso você encontrar algum registro, me comunique. Se eu encontrar alguma coisa, entro em contato também. Abraços

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